quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Uma mudança no eixo econômico do planeta

Leia, abaixo, o artigo escrito pelo professor Ricardo Della Santina Torres, publicado no site Sustentare.

Uma mudança no eixo econômico do planeta


O Brasil é de fato um país impressionante. Enquanto o resto do mundo padece dos exageros de crédito, apresentam altas taxas de desemprego, tem taxas de juros de mercado historicamente baixas, próximas a zero, não apresentam consumo interno, têm dificuldades de exportação e ainda tem suas instituições financeiras ainda abaladas pela crise de 2008, o que acarretou numa contenção na expansão do crédito, o Brasil apresenta um cenário exatamente oposto. Há muito tempo que não tínhamos um ano de crescimento econômico tão expressivo como este de 2010. Vários são os fatores que contribuíram, mas entre todos eles, o mais significativo foi o ingresso das classes C e D no mercado de consumo mais acentuado. Este evento está ligado aos efeitos de um ano eleitoral, onde os fatores importantes para o povo foram percebidos pelo governo num esforço para perdurar seu legado e fazer mais um presidente.  O aumento do crédito, e, sobretudo, a viabilização de acesso ao crédito a estas duas classes sociais tornaram este resultado possível, sustentando nossa economia a ponto de quase um super aquecimento.



O próprio crescimento e os fatores que nos levaram a ele devem se tornar o principal foco e preocupação para o de 2011. A montanha de recursos oferecidos aos brasileiros em todos os tipos de financiamento neste ano, já começam a mostrar dois pontos de alerta. O primeiro é o nível de inadimplência que está aumentando. O segundo, as previsões de altas nas taxas de juros já para o início do ano. O mercado imobiliário se beneficiou muito deste crescimento no crédito a ponto de termos indícios de que uma bolha de especulação imobiliária se formou. Com a taxa SELIC tendo caído para 8,75% no ano passado, uma intensa migração de recursos de outros instrumentos de investimento financeiro para as cadernetas de poupança ocorreu. Naturalmente, os financiamentos imobiliários começaram a ser disponibilizados com maior intensidade. A taxa SELIC voltou a subir e o ganho de renda das classes C e D neste ano, que são habituados a investir na poupança, mantiveram os níveis de disponibilidade de recursos para o setor.
Porém, o ano de 2011 começa com um alerta. A alta nos juros irá incentivar a migração de recursos da poupança para outros investimentos. Isso irá deflagrar um início de queda na atividade de construção civil para moradias e possivelmente trazer os preços para uma realidade brasileira, dado que os preços praticados hoje por metro quadrado, estão mais caros que em muitas grandes cidades dos países do hemisfério norte.

No setor externo, o dólar continua fraco, os países da zona do euro continuam com problemas de dívida soberana altíssimos e as agências de classificação de risco continuam a exercer ainda um poder descomunal sobre a credibilidade dos países, com suas alocações de notas de risco de crédito. O Brasil é de fato um país interessante, nós temos a humildade de aprendermos com nossos erros e com as crises que atravessamos. Pouco pode ser dito sobre os países considerados como desenvolvidos neste quesito, que parecem não ter aprendido nada com a crise de 2008 e nem com as outras anteriores. Estamos diante da maior mudança do eixo econômico da história da humanidade. Os erros recorrentes estão enfraquecendo estas economias a favor dos chamados emergentes, e, entre eles, o Brasil se desponta como um ótimo endereço para se investir. Isso fará com que o real se valorize ainda mais em 2011 contra o dólar americano. Temos que nos adequar a esta nova realidade. Os exportadores brasileiros terão que trabalhar forte na redução dos custos de produção para se manterem competitivos e ainda buscarem novas oportunidades de internacionalização através de aquisições no exterior.

Nenhum comentário:

Postar um comentário