quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Aos apreciadores de vinho

Por Charles Dalmonico

Em minha última viagem à Itália, em setembro, ainda no avião tinha muitas dúvidas em relação à viticultura em geral. Queria descobrir tudo, quando chegasse em território italiano, um país onde vivi por muitos anos e conheço muito bem.

Duas dúvidas atiçavam minha curiosidade: qual serão o vinho e as uvas do futuro?

Depois de conversar com mais de 30 proprietários de vinícolas e com cerca de 20 enólogos, quem elucidou minhas dúvidas foi o PHD Enólogo e Agrônomo Marco Stefanini, do prestigioso Istituto Agrario di San Michele all`Adige, hoje o centro mais avançado em pesquisas de genética fina do mundo em viticultura e agora fruticultura.

Três anos atrás, neste instituto, decifraram o genoma da videira, utilizando a caprichosa pinot noir e, poucos meses atrás, a maçã. Este é um fato que ainda será conhecido pelo grande público nas revistas científicas.

Bem, de volta ao tema principal, diria que as respostas são efetivamente difíceis, até mesmo para os profissionais da área.

Depois de muita conversa, cheguei à algumas conclusões. A primeira é que aqueles que bebem vinho com sabedoria, procuram vinhos que expressam o território e a história, onde as mãos de homens e mulheres mostram todo seu empenho e criatividade. Regiões históricas, com tipologias e vinhos que são referência, estarão sempre em evidência e não sofrerão problemas graves de venda mesmo em anos ruins ou por questões de qual vinho ou tipo de uva está na moda.

Por isto, vinhos da Borgonha, Bordeaux, Chianti, Brunello di Montalcino, Barolo e Barbaresco e sem esquecer os Amarones, terão sempre níveis de atenção elevados.

Também conversei com dois proprietários de vinícolas famosas na Toscana. Me disseram que se encontrassem um comprador, venderiam sem pestanejar. Para se ter uma idéia, cheguei até estes profissionais através de um amigo que vendeu mudas de uvas para eles há três anos e até agora não recebeu o valor das mudas. Não são mal pagadores, mas a crise mundial afetou bastante as vinícolas de modo geral. Foi-me oferecido supertoscanos a cinco dólares a garrafa. Fiquei abismado com a proposta. Só não fechei negócio porque eles já tem importadores no Brasil.

Outra conclusão é que consumidores, em grande parte os jovens ou aqueles que não conhecem muito do assunto, buscam vinhos mais fáceis de serem reconhecidos e que marcam a memória olfativa de modo tal que depois serão sempre os primeiros a serem comprados na imensa quantidade de vinhos disponíveis no mercado local e mundial.

Outro ponto importantíssimo e que me foi passado por vários agrônomos, no presente e futuro haverá uma demanda de variedades mais resistentes às mais importantes doenças fúngicas. Até mesmo na Europa o nível destas doenças tem crescido devido ao calor e ao aumento da quantidade de umidade e chuvas em algumas regiões.

Lembro-me quando morava em Laives, pequena cidade ao lado de Bolzano, na região do Alto Adige, no norte da Itália. A temperatura mais alta não passava de 34 graus no verão. Agora supera os 40 graus facilmente e o nível de umidade e temporais aumentaram consideravelmente nos últimos 10 anos.

As variedades a mim sugeridas foram as de aromas mais finos, como a Riesling Itálico que no Brasil se utiliza bastante para corte nos espumantes brut e também a Fiano. A Vinícola San Michele, de Rodeio, SC, é a primeira no Brasil a vinificá-la, com destaque para o aroma de maracujá bem intenso. O Gros Manseng, também da San Michele, apresenta estrutura e alta acidez – ideal para vinhos brancos e espumantes – e um aroma floral e maracujá muito interessante.

Entre as uvas tintas, há variedades como a Teroldego, que quando se bebe jamais se esquece e vai sempre comprá-la. Hoje é, sem nenhuma dúvida, a melhor uva tinta disponível no Brasil, desde o ponto de vista produtivo ao sanitário, pois é muito resistente ao míldio e não apresenta nenhum aroma herbáceo. A Touriga Nacional é já uma bela promessa e também a Aglianico do sul da Itália.

Há ainda muitas outras variedades e clones que poderia citar, mas temos que esperar para ter dados mais exatos, para não se cometer erros de avaliação. Na realidade, as variedades citadas acima são aquelas que muitos produtores italianos estão investindo no momento.

O texto espressa a opinião do autor.

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